20.11.06

Woyzeck




"Ah, Maria! Você precisava me ver com o grande penacho e as luvas brancas..."

19.11.06

Guerra

Esse eu escrevi a algumas semanas mas não postei porque andava sem tempo. Além disso achei que ficou com cara de Sabrina...

Franz acordou em meio a um campo desolado.

Vergonhosamente abatido pelo deslocamento de ar de uma explosão de granada, fora deixado para trás pelos companheiros em retirada e dado por morto pelos inimigos que avançavam.

Ergueu-se enfrentando a dor impregnada em cada músculo, cada osso, e caminhou contra a vontade da mão invisível que esmagava seu crânio e fazia girar a paisagem.

Deixou para trás os corpos gelados dos outros soldados e percorreu aquela bucólica região francesa, descolorida pelo inverno, entristecida pela Guerra. Passava por algumas casa destelhadas e chamuscadas pelas bombas de seu poderoso exército, quando notou que lhe observavam.

Era jovem e bela, num vestido longo chamuscado. Seus olhos brilhavam e o rosto pálido refletia medo e pena.

Sem pensar, num delírio febril, cambaleou desesperado e desabou, patético, a seus pés.

Ela o recebeu. Cuidou de suas feridas. Lhe deu de sua água. Compartilhou da pouca comida que tinha. E quando a noite veio, fria, aqueceu seu corpo com o calor de seu corpo.

Não trocaram uma palavra, sabiam que não entendiam a língua um do outro. E naqueles tempos de brados de bravura e choro desesperado sentiam-se felizes em falar através de olhares.
Ela vivia sozinha no vilarejo arruinado: orfã e viúva da guerra.

Na manhã seguinte, ela lhe serviu chá. ("Onde é que teria conseguido chá em meio a tudo isso!?") Ele sorveu o líquido precioso, reconfortante, que aquecia suas vísceras. Sentiu-se vivo como a muito não sentia.

Quando terminou, pôs a xícara sobre a mesa, caminhou lentamente até a jovem a abraçou, como se abraça a quem ama, e beijou devagar seus lábios vermelhos. Olhando-a nos olhos, disse, mesmo sabendo que ela não entenderia suas palavras: "Tenho que voltar para a guerra."

Ao fechar a porta atrás de si, estava um pouco triste, envergonhado, mas nem por isso menos confiante.

E confiante partiu rumo a seu destino: o frio e estúpido destino dos homens.