23.11.08


caminha por seu sonho naufragado para a poltrona com a visão mais clara e está hipnotizada pela tela branca, mas o filme é de uma tristeza monótona e ela já viu dezenas de vezes:
_vai curtir seu deserto, vai...
_mas deixa a lâmpada acesa! (implora patético)

5.11.08

a tarde escorreu purulenta em linguagem pomposa de petição ao meritíssimo. o calor soprando de fora pela vidraça empoeirada, aberta, me ardendo na barba mal feita, arranhada de feridas. a fofoca tingida entre o loiro comportado e castanho sem vida das comadres de repartição, esparramando indignações completamente desinteressantes pela fórmica cáqui das escrivaninhas baratas.

anoiteci obstinado na tarefa de acalmar em cinza e arquivar todos os quarenta e tantos e-mails que lotam minha caixa de mensagens, anunciando o fim de um semestre irresponsável em uma bateria de provas decisivas.

acontece que perdi aquela maldita sacolinha vermelha em que guardo o cadeado do armário do vestiário e isso me fez dar trinta voltas patéticas feito um orangotango enjaulado vasculhando cada montinho entulhado de papel velho e roupas desta casca de ovo vazia de gente e luz que é o meu apartamento!

naturalmente, essa perda me condenou a uma noite de culpa flácida e costas tensas, que dedico a destilar rancores contra o universo que me cerca.