29.8.06

Passo de black jeans a Black Label,
charutos importados em coquetéis sociais.
Terno, gravata, mala preta.

Queria estudar cinema,
escrever poemas,
fazer história.
Queria ser Johnny Cash,
tocar guitarra,
usar drogas.

Só o cash.
E nada faz sentido .


Baseado no poema de uma amiga.

25.8.06

Vago

fumaça preta no ar
mendigo num torto vagar
trânsito devagar

Puta vida besta, meu!

23.8.06

Genética


tia, eu, tia, tio, tia, primo, amiga, irmão, prima, pai, mãe

21.8.06

E qual não foi minha surpresa, Marco, quando eu reparei que estava sozinho. Não, Marco, não estava simplesmente desacompanhado. Não havia mais ninguém lá. Imagine só: em plena Picadilly Circus Station, às nove da manhã de uma segunda feira de primavera, sozinho. Nenhuma alma viva ao longo do imenso tubo de azulejos além de mim.
Não foi como se as pessoas tivessem desaparecido de repente. Não pude perceber de que forma aconteceu, nem qual fora o último momento que vira alguém. Simplesmente seguia meu caminho como sempre, sem reparar muito em nada, como sempre, e, quando percebi, estava sozinho. Senti gelar a ponta dos dedos e por um momento pensei que minhas pernas não seriam capazes de me sustentar. Como aquilo era possível?


O' Toothle - Flow (Tradução Livre)

15.8.06

Morna manhã

Talvez por preguiça.
Talvez por cansaço, ou sono mesmo.
Talvez seja o Processo, as Obrigações, o Crime, a Pena.
Ou as ondas de calor que sobem dos asfalto junto com a fumaça preta
que me fazem arder os olhos,
e me queimam a garganta.
Ou talvez seja mesmo a velha melancolia.

Hoje,
quando o sol, amarelo, invadiu meu quarto,
o despertador gritou, estridente, irritante.
Mas por mais que insistisse,
não movi um músculo.

12.8.06

Grilo falante

Postura. Cabeça erguida. Olhe nos olhos.
Aja naturalmente. Não se reprima, gesticule ao falar.
Não.... Para... Tá gesticulando demais, você não é assim.
O que você tá fazendo? Nunca cruze os braços! É uma barreira, um sinal de desconforto com a situação!
Ninguém tá desconfortável com a situação aqui...
Olhe para os lados, despretensiosamente.
Conheço essa menina. Será que cumprimento?
Não, ela não gosta de mim. Tá me evitando...
E além de tudo ela é um nojinho. Não vale a pena.
Ela te viu. Tá vindo pra cá.
Finge que não viu.
...
O que é que você tá fazendo quieto! Fala!
Tira a mão do bolso!
Peraí... Não!
Sua rodinha tá se desfazendo!
A culpa é sua!
Você é uma vergonha...

E agora? Para onde?
Isso, isso. Esse pessoal é legal.
É mais fácil falar com eles.
Isso! Viu? Eles estão rindo! Não é difícil...
Continue assim.
...

Ela tá olhando pra você.
Até parece. É bonita demais.
Não, tá olhando pra você.
Cochichou alguma coisa com a amiga.
Ela não parece afim de você.
Deve estar te achando engraçado, ridículo.
Seu cabelo deve estar esquisito.
Não tem nenhum espelho por perto...
Só uma ajeitadinha...
Porra! O que você fez!
Seu cabelo devia estar bom, agora ficou esquisito!
Esquece o cabelo! Olha de novo pra ela.
Sumiu...

Você se preocupa demais. Não deveria se preocupar tanto.
E agora tá perdido na conversa.
Vai pegar uma cerveja.

...

Nada como a bebida para dissolver a preocupação.
Mas calma, você bebeu demais.
Anda em linha reta.
Não! Não tropeça na latinha.
Postura. Olhe nos olhos.

Dance. Dance!
Você dança de um jeito ridículo.
Por isso as pessoas da roda pararam de dançar.
Têm medo de estar dançando de maneira tão ridícula quanto você.
Dance diferente. Dance menos.
Olhe para ela. Ela é bonita.
Ela está olhando pra você.
Vocês já conversaram, lembra?
E ela te olhava nos olhos.
E ela tá te olhando agora.
Esquece o cabelo.
Vai lá conversar com ela.
Espera. Não é o momento.
Vai logo.
Não. Vai ser estranho sair agora...
Dança mais um pouco, mas tenta não dançar esquisito.
Agora. Agora é a hora.
Vai lá...
Peraí, a amiga dela tá falando alguma coisa.
Foram embora.

...

Você não devia beber assim.
Agora é impossível andar reto.
Toma o último engov. É um equilíbrio delicado.
Mantém sua matéria unida.
Não tropeça, não cai, não vomita.
Tenta não falar com essa voz pastosa.

Vai pra casa. Dorme.
Não tenta justificar seu fracasso.
Amanhã você escreve alguma coisa no seu blog.

8.8.06

Seria muita avareza?

Dizem que a trovinha ofende os garçons.
Será que eles não entendem o ar jocoso amigável?

Dizem que a brincadeira esconde uma lógica social perversa.
"Imagina só dizer pra um mendigo que você pode comer de graça porque tem dinheiro!"

Ou será que é a gente que não entende a ofensa?
Será que a gente não entende mesmo?

E o judas do Matrix comia um bife suculento: "Ignorance is a blessing...".
Seria uma picanha classe A?

Agora eu li...


"Super-heróis eram fortes, sim. Alguns voavam, outros sabiam lutar. E atirei-os todos pela janela, um a um, sem dó. Toda coleção afundando na lama, as roupas tão brilhantes naqueles corpos musculosos sumindo na sujeira."
Mariana Carrara - Idílico