5.1.07

Como sempre


Fazendo o caminho de sempre, da volta pra casa, passava distraído sob aqueles andaimes que brotaram na calçada em frente àquela construção.
Uma gota da água da chuva que se acumulara sobre a madeira suja caiu no meu ombro. Num primeiro momento nem liguei, continuei andando. Mas, aos poucos, se apossou de mim a idéia de que aquela gota poderia ter escorrido de um ser que estaria grudado na parte de baixo da plataforma de madeira, feito um monstro de filme de ficção barata, aguardando silenciosamente alguém para dar o bote.
Era desses temores absurdos, sem o menor sentido. A gente para de acreditar na infância mas nunca deixa de temer. E por um momento tive certeza de que, se olhasse para trás, veria seu corpo esguio pegajoso e olhos brilhantes enfurecidos, prontos para me matar por ter percebido sua presença.
Mas a certeza passou e olhei para trás: tudo que vi foram dois faróis, que tudo iluminavam tranquilamente, ao longo da rua, vindo em minha direção.

E quando o carro passou do meu lado, meio devagar para fazer uma curva na próxima esquina vi minha silhueta refletida nos vidros das janelas, e lembrei que tinha cortado o cabelo. Lembrei que, como sempre, havia esperado meses e deixara crescer uma juba desgrenhada antes de tomar uma atitude.
Mas dessa vez eu disse pro moço das tesouras que queria deixar mais comprido, que era só pra dar uma ajeitada, pois tem gente que acha mais bonito assim.

E pensando que estava mais bonito assim, continuei o caminho feliz: teria algo a dizer, mesmo que não fizesse muito sentido.

3 comentários:

Anônimo disse...

ahhhhhhhhhh eu tenho mto medo quando penso que há coisas se escondendo atrás de mim!!!! e é nessas horas que eu CHORO! ontem no barco pensei mto em vc pq tava tocando "gosto mto de vc leãozinho bla bla bla tua pele tua luz, tua juba..." hehehe beijos!

Anônimo disse...

Eu tenho medo do David Bowie...

lucas fábio disse...

Parafraseando uma amiga minha:
Be afraid.
Be very afraid.
(Sempre)