23.2.07

Temp

Quando voltava pra casa pelo lugar onde penso nela e escrevo, o céu da madrugada estava limpo, levemente avermelhado, porém calmo. Limpo e seco.

Mas eu via uma tempestade. Via nuvens volumosas de chumbo e relâmpagos que revelavam em estrondos ameaçadores a transparência de água que flutua em agitação.

O ar ficou elétrico e úmido e as ruas fizeram silêncio.

Uma tempestade de chumbo transparente flutuava sobre minha cabeça, pronta para cair com ventos que enchem os olhos de poeira, gotas grossas assustando as pessoas da rua, raios e trovões, acidentes de trânsito, beijos de paixão encharcada, notícias terríveis das enchentes, cobertores quentes e abraços apertados.

O ar estava cheio de eletricidade silenciosa, o vento soprava lento e forte, gotas de chumbo transparente flutuavam agitadas sobre minha cabeça - mas ainda não chovia.

Um ônibus veio calmo em minha direção. No letreiro de luz dourada: LARGO S. FRANCISCO.
Virou a esquina em que estava e o barulho feio do motor desfez o silêncio da tempestade.

Essa noite não choveu,
mas segunda feira começam as aulas.

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